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Foto do escritorAlexandre Böhm

CACHORRO LOUCO E OUTROS BICHOS

Todo mundo já ouviu dizer que agosto é o mês do cachorro louco. Porém, quase ninguém sabe qual a origem desta expressão (ou mesmo parou para pensar sobre o assunto). Muitas das expressões idiomáticas que usamos no dia a dia são assim: todo mundo as repete, mas não dá pra saber de onde elas vieram e nem se seu significado original é o mesmo de hoje.

A língua inglesa também tem expressões idiomáticas – os idioms – e muitas delas, como a nossa sobre o mês de agosto, envolvem animais. Algumas destas expressões são facilmente identificadas porque são traduções quase que literais de frases que usamos em português. Outras, entretanto, são difíceis de entender, principalmente porque se relacionam com questões mais culturais do que linguísticas.

Assim, é fácil entender o seu buddy americano quando ele diz que tem um irmão que é o black sheep (ovelha negra) da família e se meteu numa enrascada porque the curiosity killed the cat (a curiosidade matou o gato).

A propósito de gatos, os bichanos dos países de língua inglesa têm nove vidas (the cat has nine lives), enquanto os nossos precisam se contentar com duas vidas a menos. Talvez lá eles precisem das vidas extras já que, quando se quer dizer que há mais de uma maneira de se fazer alguma coisa, a expressão é de que há mais de um jeito de tirar a pele de um gato (there's more than a way to skin a cat).

idioms que têm significado semelhante às expressões em português, mas com animais diferentes em ação. Os dois coelhos mortos com a cajadada se transformam em dois pássaros que levam uma pedrada (kill two birds with one stone). A gota que transborda o copo vira a palha que quebrou as costas do camelo (the straw that broke the camel’s back). Pode haver, ainda, modificações mais radicais: se a gente diz que está chovendo canivetes em dia de temporal, o seu old chap inglês diria que está chovendo cães e gatos (it’s raining dogs and cats).

Como podemos ver, para falar bem um idioma é preciso, além de ser bilíngue, ser bicultural. Ou seja, não basta ter um bom conhecimento de vocabulário e gramática mas também é preciso conhecer as diferenças culturais entre as duas línguas. Só assim para saber a razão pela qual, em inglês, coloca-se a carroça na frente dos cavalos, e não dos bois (put the cart before the horses) e que não se acerta na mosca, e sim nos olhos do touro (hit the bull's-eye).

As expressões idiomáticas são ricas porque trazem em si o conhecimento popular dos falantes de um idioma. Muito mais poderia ser falado sobre o assunto mas não dá para ficar aqui indefinidamente ou, como se diz em inglês, até que as vacas voltem para casa (until the cows come home).

PS: descobri que as cadelas tendem a entrar no cio em agosto. Logicamente os cães ficam mais próximos um dos outros para procriar e isto facilitaria a transmissão do vírus da raiva, aumentando os casos da doença em agosto. Felizmente as campanhas de vacinação antirrábica tornaram a expressão apenas uma curiosidade histórica e linguística.

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